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Princípios da Técnica Alexander – Parte 3 Quando Sentir Engana: Entenda a Apreciação Sensorial não Confiável.

  • Foto do escritor: Pedro Henrique
    Pedro Henrique
  • 26 de mai.
  • 3 min de leitura

FROM THE SACHI COLLECTION: The work of British artist Kerith Wynne Evans
Cerith Wyn Evans: Inverse Reverse Perverse, 1996

Princípios Fundamentais da Técnica Alexander

Como funciona a Tecnica Alexander - parte 3

Quando Sentir Engana: Entenda a Apreciação Sensorial não confiável.


Um dos pilares centrais da Técnica Alexander é o reconhecimento de que nossos sentidos — especialmente os ligados à sensação de movimento, postura e esforço muscular — nem sempre nos fornecem informações confiáveis. Esse princípio é conhecido como Apreciação Sensorial não confiável (Unreliable Sensory Appreciation), e foi descrito por F. M. Alexander como um defeito universal na experiência humana do homem moderno.


Para compreender esse princípio, é importante entender o funcionamento básico da propriocepção e do senso sinestésico. A propriocepção é a capacidade do corpo de perceber sua posição no espaço e o estado de suas articulações e músculos. Já o senso sinestésico diz respeito à percepção interna do movimento e da postura como um todo, sendo responsável por nos dar uma "imagem corporal" subjetiva do que estamos fazendo. Esses sentidos estão profundamente ligados ao nosso sistema nervoso e são constantemente moldados por padrões de uso estabelecidos ao longo da vida. Recomendo a leitura do meu outro artigo, Como saber se estou fazendo a coisa certa?, onde relato minha experiência durante a formação na Técnica Alexander.


O sistema nervoso, junto com a mente, organiza esses padrões de maneira automática. A partir de nossas experiências passadas — inclusive hábitos posturais, emocionais e motores —, construímos mapas internos de como “achamos” que estamos nos movendo ou posicionando o corpo. Como essas respostas são repetidas dia após dia, criamos uma confiança quase cega de que nossa percepção interna corresponde à realidade externa. No entanto, essa correspondência nem sempre é precisa.


Alexander observou que tendemos a associar nossos julgamentos — inclusive sobre o que é “certo”, “natural” ou “ergonômico” — com base em como sentimos nosso corpo, e não com base em uma observação objetiva. Assim, uma postura curvada pode parecer confortável, enquanto um ajuste mais coordenado pode inicialmente parecer “errado”. Isso ocorre porque nossa apreciação sensorial foi moldada por hábitos — e esses hábitos passam a registrar nossas experiências de forma inconsciente, criando um filtro distorcido entre a realidade e a sensação.


Diante de um estímulo — como levantar-se de uma cadeira, iniciar uma fala em público ou reagir a um desafio emocional — nossas respostas tendem a ser automáticas e condicionadas por esse histórico. Em vez de escolher conscientemente uma ação, agimos movidos por um sentir subjetivo, sem questionar sua origem. Nossas ações, assim, se tornam mais sentimentais do que racionais.


Foi nesse contexto que Alexander afirmou que "se os mecanismos sensoriais são pouco confiáveis, o errado parece certo e o certo parece errado” (Alexander, 1932). A afirmação não é apenas uma metáfora, mas uma constatação neurofisiológica: confiamos em sensações enganosas porque elas nos são familiares.


A proposta da Técnica Alexander é, portanto, uma reeducação do sistema neuromuscular e perceptivo. Por meio da inibição de respostas habituais e da orientação consciente da atividade motora, o praticante aprende a observar seus padrões automáticos e a redirecionar o uso do corpo de maneira coordenada, integrada e funcional. Com o tempo, isso permite não apenas melhorar a postura e a eficiência do movimento, mas também refinar o senso interno do que realmente está acontecendo. Em outras palavras, reeducar o corpo é também reeducar a mente e o julgamento que fazemos a partir da percepção.


A Apreciação Sensorial não Confiável, então, não é apenas um obstáculo a ser superado, mas um convite a rever as bases sensoriais e cognitivas sobre as quais estruturamos nossas ações cotidianas. O caminho proposto por Alexander é de restauração da clareza entre percepção e realidade, por meio de atenção consciente, pausa deliberada e reorganização do uso de si.



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Referencias

* Alexander, F.M. - The Use of The Self 1932, Evolution of the Technique pg.22

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