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Como funciona a Técnica Alexander – Parte 1

  • Foto do escritor: Pedro Henrique
    Pedro Henrique
  • há 16 horas
  • 5 min de leitura

Técnica Alexander

Princípios Fundamentais da Técnica Alexander – Parte 1

Unidade Psicofísica: Mente e Corpo São Um Só


Você já disse algo como “minhas costas não são boas” ou “eu não confio no meu joelho”?

Essas frases, que provavelmente você já ouviu — ou até já disse — parecem inofensivas. Mas elas carregam uma visão implícita: a ideia de que as costas e o joelho são objetos separados de quem os “possui”. Como se o corpo fosse uma máquina que usamos, e não uma expressão direta de quem somos.


Na Técnica Alexander, essa separação entre "eu" e "meu corpo" é um dos principais equívocos que nos afastam de uma vida mais integrada, consciente e equilibrada. Para F.M. Alexander, essa dissociação é justamente a raiz de muitos dos nossos desequilíbrios físicos e emocionais. E é por isso que começarei introduzindo o princípio da Unidade Psicofísica.



O Que é Unidade Psicofísica?


Esse princípio afirma: você não tem um corpo — você é um corpo pensante, sentiente e em ação. Não existe emoção sem expressão corporal. Não há pensamento que não se manifeste em respiração, postura ou tônus muscular. Não existe ação “física” que não envolva intenção e direção. Na essência, a Unidade Psicofísica significa que não existem ações puramente físicas ou puramente mentais.


Todo pensamento é um gesto em potencial; toda ação é carregada de intenção, emoção e percepção. Somos um ser único, que sente, pensa e age como uma unidade. F.M. Alexander descobriu isso na prática, ao investigar suas próprias dificuldades vocais. Ele notou que, ao pensar em falar, seu corpo já começava a reagir com tensão — antes mesmo de emitir qualquer som.


Foi nesse processo de observação e experimentação que ele concluiu:


"Quando estamos pensando em fazer algo, na verdade já estamos fazendo isso psicofisicamente."F.M. Alexander - The Use of the Self (1932)

Essa constatação transformou não só sua técnica, mas sua compreensão sobre o funcionamento humano.



Visão Mecanicista vs. Visão Orgânica


Ao longo da história, fomos condicionados por uma perspectiva dualista herdada de Descartes: mente e corpo como duas entidades distintas. Essa visão mecanicista trata o corpo como uma máquina composta por partes — joelho, ombro, lombar, pescoço — que podem falhar, travar ou se desgastar, como se funcionassem isoladamente.

Técnica Alexander
Visão mecânica vs. Visão orgânica

Essa mentalidade se reflete na forma como falamos:


“Meu ombro é ruim.”

“Minhas costas não prestam.”

“Preciso arrumar minha postura.”



Essas frases reforçam uma lógica de fragmentação: corpo como objeto, mente como piloto. Mas essa separação não existe na experiência viva. E quando acreditamos nela, nos tornamos seres divididos, desconectados e incompletos.


A Técnica Alexander propõe um resgate da visão orgânica: o ser humano como um sistema integrado, inteligente e adaptativo. Todo o ser está presente em cada ação. Você não move o braço “com o braço” — você move o braço com seu self inteiro envolvido: atenção, intenção, memória, emoção, história.


Um joelho instável não é apenas um “defeito mecânico”: pode ser a manifestação de padrões de uso — de movimento, tensão, emoção, pensamento — que envolvem o corpo todo.


O modo como usamos a totalidade de nós mesmos influencia diretamente o funcionamento de cada parte.

Na prática, isso significa que tentar “consertar” uma parte isoladamente pode ser ineficaz — ou até contraproducente — se não houver uma reorganização do todo.



O "Eu" Que Move: Volição e Consciência


Mesmo quando compreendemos intelectualmente a unidade psicofísica, uma pergunta permanece:


Quem é esse “eu” que percebe, inibe, direciona e escolhe uma nova resposta?


A Técnica Alexander nos leva, inevitavelmente, a essa investigação mais profunda. Em seu livro Constructive Conscious Control, Alexander usou a palavra volição para descrever a vontade consciente de agir de maneira coordenada e integrada — uma vontade que não é impulsiva, nem automática, mas refletida e livre.


"O cérebro não controla o corpo. O self/eu controla o corpo — por meio da consciência e do direcionamento conscientes."— F.M. Alexander, Constructive Conscious Control of the Individual (1923)

Esse "self", ou "eu", não é um ponto fixo ou uma entidade abstrata. É um processo vivo de atenção, intenção e escolha.E a prática da Técnica Alexander é justamente um caminho para cultivar essa presença:


  • Observar-se sem julgamento;

  • Inibir respostas habituais;

  • Direcionar-se com clareza e gentileza.


Essa prática desenvolve uma nova qualidade de presença, onde o eu não está fragmentado entre mente e corpo, mas unificado em ação. Reencontrar a unidade psicofísica é reencontrar o caminho de volta ao corpo, à experiência direta, e à possibilidade de uma ação mais integrada — mais humana.


A Técnica de Alexander não nos ensina a "fazer melhor". Ela nos ensina a “decidirmos melhor nossas ações” — com mais consciência, liberdade e presença.


"Quando o corpo está aberto à mudança e a mente à escuta, quem é esse que escolhe o novo caminho? É nesse espaço que a liberdade começa.”



Unidade Psicofísica no Dia a Dia


A unidade psicofísica não é apenas uma ideia filosófica — é algo que se revela em situações comuns e cotidianas, muitas vezes sem que percebamos. O modo como pensamos, sentimos e nos movemos está sempre entrelaçado. Vamos observar isso na prática:


Situação 1: “Preciso falar em público”


Antes mesmo de abrir a boca, seu corpo já responde:


  • Respiração encurtada

  • Mandíbula contraída

  • Estômago apertado

  • Ombros levantados


Você ainda nem disse uma palavra, mas sua experiência psicofísica está em pleno funcionamento. A ideia de falar já é ação em curso. Não existe separação entre o pensamento e a postura que você assume.


Situação 2: “Vou levantar da cadeira”


Esse movimento, aparentemente simples, é um laboratório vivo da Técnica de Alexander.


  • Você pensa em levantar

  • Seu corpo antecipa: tensão nas coxas, no pescoço, nos ombros

  • Muitas vezes, o esforço vem antes da necessidade


Mas, se nesse momento você inibe o impulso habitual e direciona sua atenção, pode surgir outra maneira de levantar — mais leve, mais coordenada. Essa é a prática do ser/self presente em ação.


Situação 3: “Estou sob pressão”


Você está lidando com prazos, conflitos, inseguranças. Perceba o corpo:


  • Dentes cerrados

  • Peito rígido

  • Pescoço encurtado

  • Mãos frias e apertadas


Essas reações não são “problemas musculares”: são respostas psicofísicas a um estado interno. Mais uma vez, a Técnica Alexander nos convida a não tratar o corpo como uma máquina com peças com defeito, mas como uma totalidade viva que expressa como estamos nos relacionando com o momento.


E o que isso revela?


Cada um desses exemplos mostra que não há ação puramente física. O que chamamos de corpo está o tempo todo respondendo à nossa percepção, intenção e história pessoal.


"Quando você muda a qualidade da atenção, muda a qualidade da ação."

Praticar a unidade psicofísica é estar presente em si, como um ser inteiro — corpo, mente e respiração— percebendo-se em ação.


Para Refletir


Vivemos em uma cultura que ainda reforça a fragmentação: da mente, do corpo, do tempo, das relações. O resgate da unidade psicofísica não é apenas uma questão de saúde postural — é um convite para repensar quem somos e como nos relacionamos com a experiência de estarmos vivos.


O que mudaria na sua vida se você realmente integrasse corpo e mente como uma coisa só?

Como você trataria a dor? O cansaço? A ansiedade? A si mesmo?


Somos condicionados a nos afastar da experiência presente e a viver do pescoço para cima. A Técnica de Alexander nos convida a descer — e habitar o corpo como lar.


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