Como funciona a Técnica Alexander – Parte 1
- Pedro Henrique
- há 16 horas
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Princípios Fundamentais da Técnica Alexander – Parte 1
Unidade Psicofísica: Mente e Corpo São Um Só
Você já disse algo como “minhas costas não são boas” ou “eu não confio no meu joelho”?
Essas frases, que provavelmente você já ouviu — ou até já disse — parecem inofensivas. Mas elas carregam uma visão implícita: a ideia de que as costas e o joelho são objetos separados de quem os “possui”. Como se o corpo fosse uma máquina que usamos, e não uma expressão direta de quem somos.
Na Técnica Alexander, essa separação entre "eu" e "meu corpo" é um dos principais equívocos que nos afastam de uma vida mais integrada, consciente e equilibrada. Para F.M. Alexander, essa dissociação é justamente a raiz de muitos dos nossos desequilíbrios físicos e emocionais. E é por isso que começarei introduzindo o princípio da Unidade Psicofísica.
O Que é Unidade Psicofísica?
Esse princípio afirma: você não tem um corpo — você é um corpo pensante, sentiente e em ação. Não existe emoção sem expressão corporal. Não há pensamento que não se manifeste em respiração, postura ou tônus muscular. Não existe ação “física” que não envolva intenção e direção. Na essência, a Unidade Psicofísica significa que não existem ações puramente físicas ou puramente mentais.
Todo pensamento é um gesto em potencial; toda ação é carregada de intenção, emoção e percepção. Somos um ser único, que sente, pensa e age como uma unidade. F.M. Alexander descobriu isso na prática, ao investigar suas próprias dificuldades vocais. Ele notou que, ao pensar em falar, seu corpo já começava a reagir com tensão — antes mesmo de emitir qualquer som.
Foi nesse processo de observação e experimentação que ele concluiu:
"Quando estamos pensando em fazer algo, na verdade já estamos fazendo isso psicofisicamente."F.M. Alexander - The Use of the Self (1932)
Essa constatação transformou não só sua técnica, mas sua compreensão sobre o funcionamento humano.
Visão Mecanicista vs. Visão Orgânica
Ao longo da história, fomos condicionados por uma perspectiva dualista herdada de Descartes: mente e corpo como duas entidades distintas. Essa visão mecanicista trata o corpo como uma máquina composta por partes — joelho, ombro, lombar, pescoço — que podem falhar, travar ou se desgastar, como se funcionassem isoladamente.

Essa mentalidade se reflete na forma como falamos:
“Meu ombro é ruim.”
“Minhas costas não prestam.”
“Preciso arrumar minha postura.”
Essas frases reforçam uma lógica de fragmentação: corpo como objeto, mente como piloto. Mas essa separação não existe na experiência viva. E quando acreditamos nela, nos tornamos seres divididos, desconectados e incompletos.
A Técnica Alexander propõe um resgate da visão orgânica: o ser humano como um sistema integrado, inteligente e adaptativo. Todo o ser está presente em cada ação. Você não move o braço “com o braço” — você move o braço com seu self inteiro envolvido: atenção, intenção, memória, emoção, história.
Um joelho instável não é apenas um “defeito mecânico”: pode ser a manifestação de padrões de uso — de movimento, tensão, emoção, pensamento — que envolvem o corpo todo.
O modo como usamos a totalidade de nós mesmos influencia diretamente o funcionamento de cada parte.
Na prática, isso significa que tentar “consertar” uma parte isoladamente pode ser ineficaz — ou até contraproducente — se não houver uma reorganização do todo.
O "Eu" Que Move: Volição e Consciência
Mesmo quando compreendemos intelectualmente a unidade psicofísica, uma pergunta permanece:
Quem é esse “eu” que percebe, inibe, direciona e escolhe uma nova resposta?
A Técnica Alexander nos leva, inevitavelmente, a essa investigação mais profunda. Em seu livro Constructive Conscious Control, Alexander usou a palavra volição para descrever a vontade consciente de agir de maneira coordenada e integrada — uma vontade que não é impulsiva, nem automática, mas refletida e livre.
"O cérebro não controla o corpo. O self/eu controla o corpo — por meio da consciência e do direcionamento conscientes."— F.M. Alexander, Constructive Conscious Control of the Individual (1923)
Esse "self", ou "eu", não é um ponto fixo ou uma entidade abstrata. É um processo vivo de atenção, intenção e escolha.E a prática da Técnica Alexander é justamente um caminho para cultivar essa presença:
Observar-se sem julgamento;
Inibir respostas habituais;
Direcionar-se com clareza e gentileza.
Essa prática desenvolve uma nova qualidade de presença, onde o eu não está fragmentado entre mente e corpo, mas unificado em ação. Reencontrar a unidade psicofísica é reencontrar o caminho de volta ao corpo, à experiência direta, e à possibilidade de uma ação mais integrada — mais humana.
A Técnica de Alexander não nos ensina a "fazer melhor". Ela nos ensina a “decidirmos melhor nossas ações” — com mais consciência, liberdade e presença.
"Quando o corpo está aberto à mudança e a mente à escuta, quem é esse que escolhe o novo caminho? É nesse espaço que a liberdade começa.”
Unidade Psicofísica no Dia a Dia
A unidade psicofísica não é apenas uma ideia filosófica — é algo que se revela em situações comuns e cotidianas, muitas vezes sem que percebamos. O modo como pensamos, sentimos e nos movemos está sempre entrelaçado. Vamos observar isso na prática:
Situação 1: “Preciso falar em público”
Antes mesmo de abrir a boca, seu corpo já responde:
Respiração encurtada
Mandíbula contraída
Estômago apertado
Ombros levantados
Você ainda nem disse uma palavra, mas sua experiência psicofísica está em pleno funcionamento. A ideia de falar já é ação em curso. Não existe separação entre o pensamento e a postura que você assume.
Situação 2: “Vou levantar da cadeira”
Esse movimento, aparentemente simples, é um laboratório vivo da Técnica de Alexander.
Você pensa em levantar
Seu corpo antecipa: tensão nas coxas, no pescoço, nos ombros
Muitas vezes, o esforço vem antes da necessidade
Mas, se nesse momento você inibe o impulso habitual e direciona sua atenção, pode surgir outra maneira de levantar — mais leve, mais coordenada. Essa é a prática do ser/self presente em ação.
Situação 3: “Estou sob pressão”
Você está lidando com prazos, conflitos, inseguranças. Perceba o corpo:
Dentes cerrados
Peito rígido
Pescoço encurtado
Mãos frias e apertadas
Essas reações não são “problemas musculares”: são respostas psicofísicas a um estado interno. Mais uma vez, a Técnica Alexander nos convida a não tratar o corpo como uma máquina com peças com defeito, mas como uma totalidade viva que expressa como estamos nos relacionando com o momento.
E o que isso revela?
Cada um desses exemplos mostra que não há ação puramente física. O que chamamos de corpo está o tempo todo respondendo à nossa percepção, intenção e história pessoal.
"Quando você muda a qualidade da atenção, muda a qualidade da ação."
Praticar a unidade psicofísica é estar presente em si, como um ser inteiro — corpo, mente e respiração— percebendo-se em ação.
Para Refletir
Vivemos em uma cultura que ainda reforça a fragmentação: da mente, do corpo, do tempo, das relações. O resgate da unidade psicofísica não é apenas uma questão de saúde postural — é um convite para repensar quem somos e como nos relacionamos com a experiência de estarmos vivos.
O que mudaria na sua vida se você realmente integrasse corpo e mente como uma coisa só?
Como você trataria a dor? O cansaço? A ansiedade? A si mesmo?
Somos condicionados a nos afastar da experiência presente e a viver do pescoço para cima. A Técnica de Alexander nos convida a descer — e habitar o corpo como lar.
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