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Princípios da Técnica Alexander – Parte 2 O Uso Afeta a Função: Biomecânica e o Efeito Somatopsíquico

  • Foto do escritor: Pedro Henrique
    Pedro Henrique
  • 15 de mai.
  • 5 min de leitura

Atualizado: há 5 dias

Dance and Alexander Technique
Martha Graham

Princípios Fundamentais da Técnica Alexander – Parte 2

Como funciona a Tecnica Alexander - parte 2

O Uso Afeta a Função: Biomecânica e o Efeito Somatopsíquico


Estou iniciando esta sequência de artigos para compartilhar com você os princípios fundamentais da Técnica Alexander. No primeiro texto, explorei o princípio da Unidade Psicofísica, que destaca a conexão inseparável entre corpo e mente. Pensamentos, emoções e ações físicas não atuam de forma isolada — estão profundamente interligados. Uma mudança em qualquer um desses aspectos inevitavelmente repercute nos outros.


Neste novo artigo, vou abordar outro princípio essencial: o uso afeta a função. Em outras palavras, a maneira como usamos nosso corpo — na postura, nos movimentos, na respiração — impacta diretamente como ele funciona.


Mas o que isso significa, na prática? Como esse princípio se relaciona com nossa biomecânica, com a forma como nos posicionamos no mundo e até com aspectos mais sutis da nossa identidade e estado emocional?


Siga a leitura e permita-se aprofundar um pouco mais nesse olhar integrado que a Técnica Alexander propõe.


Postura Não É Apenas Forma — É Relação Dinâmica


Ao contrário do que muitos pensam, postura não é algo fixo, que se “corrige” colocando os ombros para trás e alinhando a coluna como uma régua. Na visão da Técnica Alexander, postura é o resultado de um conjunto de relações dinâmicas entre — cabeça, pescoço, coluna, membros — e, mais amplamente, da relação do corpo com o espaço e com a gravidade.


Essas relações são continuamente influenciadas pela maneira como nos movemos, respondemos ao estresse, nos percebemos e até mesmo como nos identificamos psicologicamente. Ou seja, nossa postura expressa não apenas como estamos fisicamente, mas como estamos sendo internamente.


Biomecânica do Uso: Coordenação Versus Esforço


Do ponto de vista da biomecânica, o corpo humano é projetado para se sustentar e se mover com mínimo esforço e máxima eficiência. Na Técnica Alexander, trabalhos a organização de toda a estrutura a partir do eixo primário (controle primário) — relação dinâmica entre cabeça, pescoço e coluna vertebral — fundamental para essa organização. Quando há um bom uso, os músculos trabalham em coordenação, a gravidade se torna uma aliada, e o corpo se move com leveza e fluidez.


Por outro lado, padrões habituais de mau uso — como colapsar o tronco, tensionar o pescoço, prender a respiração ou endurecer as articulações — interferem nessa mecânica natural. Isso gera sobrecarga, compressão articular, desgaste e fadiga. Com o tempo, surgem sintomas como dores nas costas, nas articulações, problemas respiratórios ou digestivos.


A Psique Molda o Corpo — Uma Visão Psicossomática


Cada pessoa desenvolve, ao longo da vida, padrões corporais que refletem aspectos da sua história, personalidade e estratégias de adaptação. Por exemplo, alguém que cresceu ouvindo que precisava “ser forte” pode desenvolver tensões crônicas nos ombros e no tórax, como se “segurasse o mundo”. Já uma pessoa acostumada a evitar conflitos pode ter o hábito inconsciente de encolher o corpo, retraindo o pescoço e comprimindo o peito.


Essas reações, embora inicialmente emocionais ou psicológicas, se cristalizam em padrões corporais — moldando a postura e influenciando a função de órgãos, músculos, respiração e até do sistema nervoso.


"O termo psicofísico é usado em todas as minhas obras para indicar a impossibilidade de separar as operações 'físicas' e 'mentais', em nossa concepção do funcionamento do organismo humano. F.M. Alexander, 1923

Alexander antecipou muitos aspectos do que hoje chamamos de abordagem psicossomática. Ao desenvolver um método baseado na unidade psicofísica, ele afirmou, em seu livro The Use of the Self (1932), que é impossível separar os processos "mentais" e "físicos" em qualquer forma de atividade humana.



O Efeito Somatopsíquico — O Corpo Influenciando a Mente


Muito se fala sobre como as emoções afetam o corpo — e de fato afetam. No entanto, a Técnica Alexander nos convida a observar o caminho inverso: como o corpo, quando organizado com liberdade e eficiência, influencia positivamente nosso estado emocional e mental.


Esse é o efeito somatopsíquico: quando o corpo encontra um uso mais coordenado, especialmente a partir do controle primário — a relação funcional e espacial entre cabeça, pescoço e tronco — há uma mudança imediata na qualidade da respiração, da presença e da percepção de si mesmo. O sistema nervoso tende a sair do modo reativo de luta ou fuga e entrar em um estado de maior equilíbrio, o que favorece clareza mental, calma e disponibilidade emocional.


Ao restaurar essa organização central, não estamos apenas aprimorando a biomecânica do corpo — estamos também criando as condições para que estados mentais e emocionais mais equilibrados possam emergir naturalmente. Em vez de tentar “controlar” a mente diretamente, a Técnica Alexander propõe outro caminho: agir por meio do corpo, reorganizando a estrutura para influenciar, de forma sutil e eficaz, o conteúdo interno.


Esse princípio é revolucionário por sua simplicidade e profundidade: ao cuidar da qualidade do uso de si, modificamos o terreno onde nossas emoções e pensamentos se desenvolvem.


Uso Consciente: Uma Escolha a Cada Momento


Ao contrário de métodos que buscam corrigir ou impor uma “boa postura”, a Técnica Alexander ensina a desenvolver uma nova relação com o próprio corpo. O foco não está em “fazer certo”, mas em observar, inibir padrões automáticos e permitir novas possibilidades de resposta aos estimulos externos e internos.


Com o tempo, o aluno aprende que postura, movimento, respiração e atenção não são áreas separadas, mas partes de um todo integrado. E esse todo — corpo, mente, emoção — está em constante diálogo com o ambiente, as demandas da vida e as histórias que carregamos.


Conclusão


"O uso afeta a função" é muito mais do que um princípio mecânico — é uma chave para compreendermos como somos e funcionamos no mundo. A Técnica Alexander convida a olhar para si com curiosidade, a questionar padrões enraizados e a experimentar novas formas de se mover e se perceber. Ao aprimorar o uso de si, ganhamos não apenas liberdade de movimento, mas também liberdade de ser.


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Referência:


  • F.M. Alexander, The use of the self, 1932, pg1: ...it is impossible to separate " mental" and " physical " processes in any form of human activity.

  • F.M. Alexander, Constructive Conscious Control of the Individual, 1923, pg 2: The term psycho-physical issued throughout my works indicate the impossibility of separating "physical" and "mental" operations in our conception of the working of the human organism.

  • Debbie Kinseya, Lesley Gloverb, Franziska Wadephulb (2021). How does the Alexander Technique lead to psychological and non-physical outcomes? A realist review.



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