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Senso de equilíbrio e o controle primário

  • Foto do escritor: Pedro Henrique
    Pedro Henrique
  • 16 de jul. de 2021
  • 7 min de leitura

Atualizado: 19 de abr.


senso de Equilibrio e Técnica Alexander

Senso de equilíbrio e o controle primário

Técnica Alexander - Pedro Souza


“Você não pode fazer algo que não sabe se continuar fazendo o que sabe.”

- F.M Alexander


A magnificência do corpo humano vai muito além da nossa percepção comum da realidade. Estamos experimentando o mundo por meio desse organismo vivo, e nossa ideia de "ser" ou "self" se apoia diretamente nas funções do corpo. Afinal, não podemos viver uma experiência que não possa ser sentida.


A Técnica Alexander é um método educacional desenvolvido por F. M. Alexander (1869–1955). Esse método aborda o ser humano como uma unidade psicofísica, auxiliando-nos a usar mente e corpo de forma integrada e eficiente. Por atuar nas profundezas do nosso “eu corporificado”, a Técnica nos permite transformar hábitos enraizados.


Para mudar qualquer hábito — seja ele mental ou físico — é necessário primeiro tomar consciência dele. E uma das formas de fazer isso é observar como agimos no momento presente.

O método desenvolvido por Alexander baseia-se em três pilares fundamentais para a reeducação psicofísica:


1.  Observação:  Ao nos observarmos, começamos a entender os impulsos por trás de nossos hábitos. A observação desperta a atenção consciente.


2.  Inibição:  Após identificar um padrão, buscamos inibi-lo. Trata-se de um processo contínuo de “não fazer”, que amplia nossa consciência sobre reações e padrões mentais automáticos. Embora o objetivo seja inibir respostas reflexas, ainda assim estamos em movimento.


3.  Direção:  O próximo passo é escolher que direções seguir. Direcionar, aqui, significa permitir que um novo padrão de pensamento se manifeste, gerando um novo tipo de movimento.


Esses três princípios estão presentes em toda aula da Técnica Alexander e nos ajudam a reconhecer e modificar nossos padrões habituais. O objetivo é liberar a tensão excessiva acumulada, começando pela relação entre cabeça, pescoço e coluna, expandindo-se para o resto do corpo.


Essa prática tem como foco otimizar nosso controle sensório-motor por meio do  controle primário  — a coordenação entre cabeça, pescoço e coluna em resposta à gravidade e ao movimento. Na Técnica Alexander, esses princípios são trabalhados por meio do pensamento: você pensa sobre eles e permite que seu corpo responda.


“Existe no ser humano, como em todos os vertebrados, um controle primário que determina o uso adequado de todo o organismo. Quando a cabeça está em uma certa relação com o tronco, o organismo psicofísico funciona com o melhor de sua capacidade natural.” Aldous Huxley, The Saturday Review of Literature.

O controle primário é o reflexo mestre por trás do equilíbrio em pé, ao caminhar ou ao sentar. Ele coordena toda a unidade psicofísica (mente-corpo) de forma integrada. ( F. M. Alexander – The Use of the Self, 1932 )



O Senso de Equilíbrio (Equilibriocepção)


Nosso senso de equilíbrio é o que nos permite manter a orientação espacial e evitar quedas, tanto parados quanto em movimento. Esse equilíbrio depende da interação entre três sistemas sensoriais:


1.  Proprioceptores  – responsáveis pela consciência da posição e do movimento do corpo.

2.  Sistema Visual  – nos dá referência visual da posição no espaço.

3.  Sistema Vestibular  – localizado no ouvido interno, é o principal responsável por detectar a posição e o movimento da cabeça.


Esses sistemas também respondem às nossas emoções e estados internos. Vamos entender melhor cada um deles:


Proprioceptores – O Sentido de Posição


O alinhamento corporal depende da interação entre ossos, articulações, músculos, fáscias e o sistema nervoso. Os proprioceptores, encontrados em músculos, tendões e ligamentos, enviam informações ao sistema nervoso central sobre pressão, tensão e, principalmente, sobre a posição e o movimento corporal.


1.Proprioceptores no músculo

Existem receptores (fusos musculares) de estiramento/ alongamento são responsáveis ​​por detectar mudanças no comprimento de um músculo. Estes receptores contribuem para o controle motor e informa o sistema nervoso central sobre a posição dos membros. Os fusos musculares têm uma resposta reflexiva ao contrair o tecido para evitar alongamento excessivo e possíveis danos às fibras musculares. Esse reflexo é muito rápido, apenas dos nervos periféricos até a medula espinhal e vice-versa. O objetivo desses receptores é proteger o corpo de lesões causadas por alongamento excessivo e manter o tônus ​​muscular.


Um exemplo simples de como os fusos musculares funcionam é quando você está quase dormindo no avião, e cada vez que sua cabeça cai para a frente, o reflexo dos músculos posteriores do pescoço se contraem trazendo a cabeça de volta à posição natural. Este reflexo é constante na postura ereta, onde se mantém alternando entre os músculos - pares antagônicos.



2.Proprioceptores no tendão

Conhecidos como órgão tendinoso de Golgi, esses receptores são encontrados dentro dos tendões ligados às fibras musculares extrafusais. O órgão tendinoso de Golgi detecta a tensão no complexo músculo-tendão e funciona como um mecanismo de proteção para garantir que forças anormais não sejam transferidas para os ossos. À medida que a tensão no músculo aumenta, o OTG envia sinais para a medula espinhal que inibe a ativação muscular, criando um reflexo de relaxamento. O OTG nos dá a sensação de peso.


3. Proprioceptores no ligamento

Os estudos sobre os proprioceptores nos ligamentos ainda são discutíveis e controversos. No entanto, estudos sobre a propriocepção nos ligamentos do joelho podem nos dar algumas pistas sobre como esses receptores funcionam. Os receptores articulares funcionam como mecanorreceptores, sensíveis à pressão e distorção. Os mecanorreceptores localizados nos quatro ligamentos principais do joelho trabalham dinamicamente, cada um respondendo a um estímulo diferente; pressão, posição, movimento/velocidade e amplitude. O papel principal dos receptores articulares é proteger a articulação quando a articulação está próxima de sua amplitude maxima de movimento, iniciando os reflexos musculares de proteção.

Por suas respostas reflexivas automáticas ao alongamento muscular, os proprioceptores trabalham juntos e dinamicamente entre músculo-tendão-ligamento, mantendo a estabilidade por todo o corpo. Uma articulação não pode se mover sem um encurtamento muscular, o que afetará o comprimento dos músculos e tendões e de forma antagônica alongando os músculos opostos, resultando no movimento da articulação. Esses órgãos neurossensoriais funcionam regulando a tensão muscular em todo o corpo, nos permitindo ficar sobre duas pernas e nos mover em várias direções.


Sistema vestibular – O Sentido de Movimento e Orientação


Localizado no ouvido interno em um sistema de compartimentos chamado labirinto vestibular, que é contínuo com a cóclea. O sistema vestibular é responsável por fornecer informações ao nosso cérebro sobre a posição da cabeça, movimento e orientação espacial. E também envolve as funções motoras que nos permitem manter o equilíbrio, estabilizar a cabeça e o corpo durante o movimento e manter a postura.


Há evidências de que o sistema vestibular desempenha um papel importante no desenvolvimento neuromotor e cognitivo, influenciando até a construção do “self”.


Sistema vestibular
 Técnica Alexander
Sistema Vestibular

O labirinto vestibular incorpora três canais semicirculares localizados em um plano no qual a cabeça pode girar. Cada um dos canais possui um fluido chamado endolinfa, que se move de acordo com a posição da cabeça. O movimento desse fluido influencia os receptores sensoriais localizados dentro do sistema vestibular que liberam neurotransmissores para o cérebro sobre a posição da nossa cabeça, dando-nos orientação espacial e equilíbrio dinâmico e estático.




Sistema Visual – Referência Espacial


Você sabia que o sistema visual influencia o equilíbrio e a orientação espacial? Mais da metade do cérebro é envolvida em processos de informação visual, dedicando-se a converter sinais recebidos dos olhos em mensagens neurais que nos fornecem informações sobre luz, cor, formas, movimento e direção.


Essas informações são percebidas pelos fotorreceptores, células fotossensíveis localizadas na retina. Existem dois tipos de fotorreceptores, bastonetes e cones. Os bastonetes são mais sensíveis às mudanças de luz e escuridão, forma e movimento, enquanto os cones são mais sensíveis às cores. Os fotorreceptores são responsáveis ​​por fornecer orientação visual de um objeto para outro e contribuir para a orientação espacial e equilíbrio.


Há também o reflexo dinâmico dos olhos (reflexo vestíbulo-ocular) que garante a estabilidade visual em qualquer circunstância em que movimentos incompatíveis da cabeça e do entorno visual prejudiquem a estabilidade visual. Este reflexo move os olhos na direção oposta quando a posição da cabeça muda (sistema vestibular).


Agora que temos um entendimento básico de como nosso corpo funciona em relação ao equilíbrio e movimento, vamos voltar à Técnica Alexander e seu Controle Primário.


Controle Primário: A Relação Cabeça–Pescoço–Coluna


Controle primário é o termo usado por Alexander referente à organização contínua da cabeça-pescoço-tronco em coordenação com o resto do corpo e o movimento. Este termo é sobre a habilidade adquirida em aplicar os três princípios, Observação, Inibição e Direção, nesta relação dinâmica da cabeça com a espinha dorsal.

Vimos que a posição da cabeça influencia fortemente nossa coordenação, equilíbrio e orientação espacial. O processo de desenvolvimento humano leva anos para atingir a maturidade. Após o nascimento, nossa coordenação começa com vários reflexos trabalhando simultaneamente no corpo. Os reflexos primitivos, reflexo tônico-cervical, por exemplo, está presente em recém-nascidos e fica mais forte por volta dos três meses de idade. O reflexo tônico do pescoço ocorre pela rotação da cabeça, fazendo com que os braços e a perna se estendam para o lado para o qual a cabeça virou. Esses primeiros reflexos ajudam a desenvolver nossos padrões neurológicos, dividindo o corpo na linha média, o que mais tarde ajudará no engatinhar.


controle primario e Técnica Alexander
Controle Primário

Os proprioceptores, o sistema vestibular e o sistema visual trabalham simultaneamente em relação ao corpo no espaço e na gravidade. A posição da cabeça contribui dramaticamente para a maneira como nos movemos e nos coordenamos. É comum ouvir alunos relatarem a sensação de flutuação e leveza pelo corpo quando a cabeça se move livremente.


Portanto, quando se trata de nosso senso de equilíbrio precisamos ver como nos organizamos por completo. A Técnica Alexander nos ensina a liberar a tensão muscular excessiva permitindo que o corpo restaure seu equilíbrio natural. Quando aquietamos nosso sistema, permitimos que os reflexos neuromusculares sutis do controle primário iniciem os ajustes finos em todo o nosso corpo. (Dimon Article 4)

A eficiência do controle primário (como organizamos nossa cabeça) é fundamental quando buscamos aprimorar habilidades, melhorar a coordenação, postura e bem-estar. Se estiver interessado em liberar as tensões em seu pescoço e experienciar mudanças em toda a sua unidade psicomotora, você pode encontrar um professor Alexander qualificado em sua área ou sinta-se à vontade para me enviar um msg.



Se você quiser saber mais sobre a Técnica Alexander, estou à disposição para oferecer suporte e ajudá-lo(a) a explorar seus aspectos mais profundos. Sessoes individuais online e presencial na regiao da Paulista e Santa Cecilia, São Paulo. Contato: +55 11 97689‑4265‬ (WhatsApp)




Referências:


Sistema Vestibular

Proprioceptores

Proprioceptors nos ligamentos:

Técnica Alexander

Primary control

Reflexos primitivos



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