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Técnica Alexander e o aspecto linguístico e corporificado das palavras

  • Foto do escritor: Pedro Henrique
    Pedro Henrique
  • 21 de jan. de 2022
  • 6 min de leitura

Atualizado: 19 de abr.


Técnica Alexander e o uso de simesmo
Photo: Alfred Hitchcock by Gjon Mili, 1942

Dart: The Attainment of Poise

O aspecto linguístico e corporificado das palavras postura e poise

Escrito por Pedro Souza


O método desenvolvido por F. M. Alexander nos ajuda a identificar e reeducar nossos padrões habituais de pensamento e movimento — algo que pode transformar a forma como nos relacionamos conosco e com os outros.


O artigo de Raymond Dart, The Attainment of Poise, foi publicado no South African Medical Journal em 1947. Nele, Dart explora o processo evolutivo do movimento, discute as diferenças entre os conceitos de poise (postura) e propõe como o uso adequado do corpo pode promover saúde e bem-estar. O autor também menciona o trabalho de F. M. Alexander, com o objetivo de apresentá-lo à comunidade médica. Dart foi introduzido à Técnica Alexander por Irene Tasker em 1943 e estudou-a profundamente.



O artigo citado é uma rica fonte de informações aos interessados ​​no estudado da anatomia e no movimento corporal. No entanto, o que chamou a minha atenção foi o conceito semântico e corporificado das palavras: postura e poise.


Muitos de nós não temos consciência dos padrões de comportamento, pensamento e sentimento que carregamos — e esses padrões moldam aquilo que chamamos de identidade (Verplanken & Sui, 2019). Eles surgem de diversas fontes, e a linguagem oral é uma delas. A linguagem permeia a vida social e está presente na maioria dos fenômenos que constituem o núcleo da psicologia social (Krauss & Chiu, 1998).


Muitos de nós não temos consciência de nossos padrões de comportamentos, pensamentos e sentimentos. E esses padrões podem influenciar o que definimos como nossa identidade. (Verplanken B; Sui J. 2019).

Algumas teorias sugerem que a linguagem e seus símbolos tornam-se significativos apenas quando são mapeados por experiências não linguísticas, como ações e percepções (Glenberg; Havas; Becker; Rinck, 1993). Os estudos da cognição incorporada afirmam que a percepção, as imagens e as ações são fundamentais na aquisição de conhecimento. Portanto, para dar sentido a uma linguagem oral, precisamos, em um certo grau, associá-la a alguma experiência corporal. Considerando crianças cegas, elas tendem a ter dificuldade em aprender um vocabulário que forneça informações sobre o mundo visual, dependendo de outros sentidos para dar significado às palavras (Anderson; Dunlea & Kekelis. 2008).


A forma como interpretamos a fala afeta diretamente como percebemos e organizamos nosso corpo no espaço e na gravidade. Tomando como exemplo a palavra “postura”, há uma ideia comum de que ela se refere a uma posição rígida e ereta — ombros para trás, peito aberto. Já “poise”, embora também possa gerar interpretações corporais imprecisas1*, soa mais suave, mais equilibrada.


Segundo o dicionário, "postura" deriva do latim ponere, que significa “colocar, pôr”, e está relacionada a “atitude”. Já “poise” vem do latim pendere, que remete a “pendurar, equilíbrio”. Dart descreve poise como uma pausa momentânea em que forças musculares se equilibram — uma suspensão do movimento (Dart, 1947).


Essas palavras são apenas exemplos que nos convidam a explorar ainda mais a ligação entre a linguística e a cognição corporificada. O funcionamento motor é crucial para auxiliar os domínios perceptivo, cognitivo e social (Adolph. 2018). Nossa função cognitiva é afetada pela forma como nosso corpo está organizado, podendo assim refletir em nossas atitudes auto relacionadas, como a confiança (Briñol, 2009).


Uma linguagem é um evento que cria estímulos acústicos (fala) e ópticos (escrever e gestos), o que torna a informação linguística intimamente relacionada à nossa percepção direta.

Percepção sensorial e o corpo em movimento


Portanto, os métodos que nos permitem ficar expostos a uma nova forma de pensar, agir e sentir o corpo têm grande impacto em como experienciamos a nós mesmos e o mundo ao nosso redor. Alexander afirma, em Constructive Conscious Control:


“..nossos processos mentais são resultado de experiências sensoriais em ação e reação psicofísica, e para empregar as diferentes partes do mecanismo nos atos da vida cotidiana, somos influenciados principalmente por processos sensoriais (sentimento). Assim, podemos receber um estímulo por meio de algo que ouvimos, algo que tocamos ou por meio de alguma outra agência externa. Em todos os casos, a natureza de nossa resposta, seja um movimento real, uma emoção ou uma opinião, dependerá da atividade associada em ação e reação, dos processos relacionados com a concepção e com os mecanismos sensoriais e outros responsáveis para o "sentimento" que experienciamos 2*”. (Alexander, 1955; tradução livre)


Alexander destacou que os processos mentais são o resultado de experiências sensoriais de ação e reação psicofísica. Uma linguagem é um evento que cria estímulos acústicos (fala) e ópticos (escrever e gestos), o que torna a informação linguística intimamente relacionada à nossa percepção direta. Mesmo que não saibamos do que se trata os dados linguísticos, nosso organismo ainda responde aos processos perceptuais (Wilson; Golonka. 2013).


No entanto, se nossos padrões neuromusculares não estão em sintonia com nosso pensamento, entramos em um estado que Alexander chamou de apreciação sensorial não confiável . Isso acontece quando a consciência corporal (cinestesia) não reflete com precisão o que realmente está acontecendo em nosso corpo. Assim, confiamos em sensações imprecisas e interpretamos mal nossos próprios movimentos, já que nossa mente está tão condicionada a perceber o corpo de determinada maneira que deixamos de pensar conscientemente sobre como realmente o utilizamos.


A chave está em aprender a observar nossas reações aos estímulos — ao invés de reagir automaticamente. Esse processo de reeducação permite que nossas respostas habituais não interfiram negativamente em nossa função geral. O método de Alexander é uma ferramenta para acessar o subconsciente e tornar conscientes os padrões de pensamento, ação e percepção.


As palavras influenciam nossa percepção — e nossa interpretação física delas pode mudar completamente seu significado. Ao destacar as diferenças entre “postura” e “poise”, Dart nos mostra como a má interpretação dessas palavras tem causado confusão na terminologia médica e na compreensão do movimento humano (Dart, 1947).


Na Técnica Alexander, professores costumam escolher palavras que evocam leveza, expansão e liberdade — justamente para evitar o enrijecimento causado por comandos corporais mal interpretados. Nossos corpos participam ativamente da construção de sentido: entender e usar o corpo com mais eficiência abre novas possibilidades de ação, percepção e pensamento. Isso nos leva a uma compreensão mais clara de nós mesmos e do mundo ao nosso redor.


Se você quiser saber mais sobre a Técnica Alexander, estou à disposição para oferecer suporte e ajudá-lo(a) a explorar seus aspectos mais profundos. Sessoes individuais online e presencial na regiao da Paulista e Santa Cecilia, São Paulo. Contato: +55 11 97689‑4265‬ (WhatsApp)



* Poise: Eu escrevi este artigo, primeiramente na lingua Inglesa, embora português seja a minha lingua materna. E mesmo assim tive um pequeno conflito na tradução da palavra Poise. O dicionário me deu algumas traduções, porém elas não se encaixaram com o real significado da palavra em inglês. Por isto decidi deixar a palavra Poise em sua forma original, e de acordo com o Oxford Dictionary a palavra Poise significa: a capacidade de se mover ou ficar de pé de maneira atraente com bom controle do corpo.


1* Walter Carrington apontou que poise pode sugerir escolas de charme e festas de chá e chapéus floridos e coisas desse tipo (Carrington, 1983).


2* Trecho retirado do livro de F. M. Alexander: Constructive Conscious Control, 8th Ed, 1955; pg 20. ‘Tradução livre feita por mim’





Referencias:

Verplanken B and Sui J (2019). Habit and Identity: Behavioral, Cognitive, Affective, and Motivational Facets of an Integrated Self. Front. Psychol.

Krauss, R. M., & Chiu, C.-Y. (1998). Language and social behaviour; Columbia University and The University of Hong-Kong, 1998. web: http://www.columbia.edu/~rmk7/PDF/HSP.pdf

Arthur M. Glenberg, David Havas, Raymond Becker, and Mike Rinck. Grounding Language in Bodily States; The case for emotion, pg115. Book: Grounding cognition, The role of perception and action in memory, language and thinking. Cambridge University Press, 2005.

(Anderson; Dunlea & Kekelis. 1993): Blind children: https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/014272379301303703

Walter Carrington’s commentary (March–May 1983) on ‘The Attainment of Poise’ by Raymond A. Dart

Raymond A. Dart; The Attainment of Poise, 1947. South African Medical Journal. Department of anatomy, University of the Witwatersrand, Johannesburg.

Karen E. Adolph. New York University. The development of motor behaviour, 2018. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5182199/

Pablo Briñol. Universidad autónoma de Madrid. Body posture effects on self-evaluation: A self-validation approach, 2009. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/ejsp.607

F. M Alexander. Constructive Conscious Control; 1st published 1923; reprinted by Integral Press, 1955.

Borghi, Anna; Cimatti, Felice. (2009). Embodied cognition and beyond: Acting and sensing the body. https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0028393209004369

Andrew D. Wilson & Sabrina Golonka. Embodied cognition is not what you think it is, 2013. School of Social, Psychological and Communication Sciences, Leeds Metropolitan University, Leeds, UK. Web: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2013.00058/full

David Evans. Language and Identity; Discourse in the world; Publisher: Bloomsbury Academic, 2015.

Embodied cognition; behind acting and sensing: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/19913041/

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